domingo, 7 de abril de 2019

Gramsci - Parte 2

O texto a seguir é a primeira parte de três (Parte 1 e Parte 3) e trata de um estudo para seminário sobre Gramsci. Era para ser utilizado apenas como consulta para a apresentação e por isso não houve rigor em apontar citações. Por fim, como tornou-se maior e mais completo do que esperado, optou-se por compartilhá-lo.
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Em 1920, na Itália, com as dificuldades decorrentes da 1ª Guerra, a insatisfação da população se manifestou mais intensamente. Os camponeses do sul reivindicavam reforma agrária e houve greve geral na Itália com a tomada, em especial, da fábrica da Fiat, na qual os donos e dirigentes foram expulsos e o Conselho operário tomou a direção. À época, são mais de 600 empresas ocupadas e 2 milhões de trabalhadores parados.

Após um período de negociações, os donos das empresas propuseram aumento de 20% mais pagamento dos dias parados, ao que os trabalhadores cederam por uma questão de sobrevivência. Apesar da suspensão da greve e decorrente perda proletária, Gramsci se comoveu com o que acontece e reconhece a humanidade na cessão – a necessidade de sobrevivência.

Em 1921, participou da fundação do Partido Comunista Italiano e, no ano seguinte, com a cisão da esquerda (socialistas favoráveis a mudanças via partidária, comunistas pregando reformas profundas), os fascistas "marcharam sobre Roma" (28 de outubro). O rei Vitor Emanuel III passou o poder para o Partido Fascista Italiano, na figura de Benito Almicare Andrea Mussolini (1880-1945) iniciando uma fase dolorosa na política Italiana.

Julia, Delio e Giuliano
Gramsci escapou de logo ter se tornado uma figura perseguida pela política vigente pois havia ido para a Rússia alguns meses antes, em maio, devido à saúde precária, ficando lá até final de 1923, como membro do Partido Comunista. Neste período em que esteve na Rússia conheceu Julia Schucht (1896-1980), com quem se casou e teve dois filhos Delio (1924-1981) e Giuliano (1926-2007).

A ida de Gramsci a Rússia o colocou frente à situação real. Mesmo considerando a necessidade de um tempo de maturação para o governo, Vladimir Lenin (1870-1924) o desiludiu – a teoria se mostrou diferente na prática, ou melhor, a teoria foi distorcida em uma prática às avessas, na qual Lenin a adequou a seus interesses. No governo leninista houve matanças, trabalhos forçados e visitas noturnas, de modo a manter o Estado assim como Lenin queria.

Com a conturbada morte de Lenin, em 1924, há uma cisão no partido comunista. São propostos dois nomes com divergências a respeito da forma como o Estado deveria se relacionar com a população. De um lado Léon Trotsky (1897-1940) propôs uma relação comunicativa, de outro Josef Stalin (1879-1953) uma relação autoritária. Com a subida de Stalin ao poder, a política de eliminação de opositores políticos utilizando tortura, campos de morte ou execução por esquadrões foi mantida e impulsionada. A tradição de distorção do socialismo assim continuou até a morte de Stalin, por derrame, em 1953. Estima-se que no período houve 4 milhões de presos políticos, dos quais 800 mil foram condenados a pena de morte. Comparativamente, 34 mil presos não políticos foram condenados à morte no mesmo período. Pelo visto, nenhum governo comunista foi coordenado verdadeiramente pelo proletariado, pela população, mas por uma minoria dita socialista e organizada que subiu ao poder e se mostrou autoritária.

Para Gramsci, a maior parte da população na Rússia não se sentia incomodada, o que poderia ser pela ausência de criticidade ou motivação para se envolver nas questões político econômicas. Para ele, o povo estava muito mais preocupado com Deus e o amor à família e à nação, o que implicava em lealdades divergentes das esperadas como quem se dispunha ao estabelecimento de outro tipo de Estado. Assim, por mais que as propostas fossem interessantes, a violência com que eram impostas afastavam a relação do ideário socialista com as massas.

Neste aspecto, sua visão relativa à hegemonia cultural e consenso moral emerge com mais profundidade. Como a crítica cultural advém do intelectual, o intelectual não pode e não deve ser neutro, apolítico, nem acima dos partidos. O intelectual é parte da superestrutura e elabora uma moral e uma cultura a serviço de um poder, de uma sociedade civil e política, num determinado bloco histórico. Por sua vez, o bloco histórico é uma estrutura social e uma superestrutura ideológica e política, sendo que na superestrutura há dois blocos: sociedade política (dominação direta e coercitiva) e sociedade civil (hegemônico no corpo social).

Como o conhecimento do qual o intelectual se alimenta faz parte das condições materiais, possibilitando o trabalho social, intelectual e manual, não era concebível o conhecimento como meio de manipulação ou subordinação de um a outro. Por isso, Gramsci atenta para a necessidade de se criar um intelectual orgânico, coletivo, capaz de captar a vida do proletário, suas necessidades, de caráter funcional, partindo do modelo da revolução francesa. Um intelectual nascido na massa, que entenda a cultural do povo, em contraposição ao modelo tradicional de intelectual centrado nas condições mentais, intelectuais, iludido pela sua autonomia decorrente do poder.

Vem daí a necessidade de uma escola unitária, para dar conta desse intelectual advindo das massas capaz de explorar a concepção de mundo historicamente construído, reconstruindo-o e mantendo-o, assim como permitindo a elevação cultural de um grupo – neste caso, até uma direção política, por exemplo.

Para Gramsci, essa concepção de mundo que se manifesta implicitamente na vida individual e coletiva, seja por meio da arte, da política, da atividade econômica, é a ideologia. Neste caso, a realidade social (infraestrutura produtiva) cria a ideologia (superestrutura) e não o contrário, sendo a ideologia o espaço no qual a consciência humana se forma. O estágio avançado dessa ideologia, como não poderia ser diferente, é a filosofia, alcançada pelos homens que se dispõe à autocrítica, a conhecer além do que está posto.

Como a filosofia, de caráter ideológico, está pautada na realidade social, teoria e prática se unem em práxis filosófica, numa consciência filosófica onde a prática produtiva se entrelaça com a prática revolucionária. Esse entrelaçamento é identificado quando o trabalho é compreendido como materialização da expressão humana. Assim, o senso comum deve ser tratado com a devida atenção tendo em vista sua formação a partir de uma prática, revolucionária ou não. Ademais, é dele que advém o consenso moral buscado por uma classe.

Além disso, havendo fortalecimento de uma determinada ideologia, a hegemonia de uma classe se fortalece apoiando-se nas limitações ideológicas impostas à outra. Em contrapartida, quando há grande coesão na classe hegemônica, há maior possibilidade de mobilização entre as outras classes. Se há consolidação filosófica em uma determinada classe, há então hegemonia em relação às outras.

Para se ter uma ideia da relação de classes e seu reflexo nas escolas da época, nos idos de 1920, Giovanni Gentile (1875-1944), outro filósofo italiano de ampla visão intelectual, liberal-conservador, pregava redução da população escolar tendo em vista que não deveria haver lugar para todos – considerava que aumentar a quantidade de crianças nas escolas diminuiria a qualidade do ensino – e por isso a escola deveria ser preparatória para os diferentes grupos sociais. Quinze anos depois, Giuseppe Bottai (1895-1959), intelectual e filósofo italiano, propôs um projeto de escola média única baseada na ampliação/ extensão do ambiente familiar, eliminando os excessos curriculares.

Gramsci, 1923
Em contraposição a esses pensamentos, Gramsci acreditava que a escola deveria ser um local de formação integral entre a ciência e a cultura, entre o trabalho manual e o trabalho intelectual, pois a ciência já se apresentava entrelaçada à vida, às questões práticas, um pensamento bastante atrelado à Escola do Trabalho apresentada por Moisey Mikhaylovich Pistrak (1888-1940) em Fundamentos da escola do trabalho (2008).

No final de 1923, Gramsci voltou para a Itália e, mesmo desiludido com o rumo tomado pelo governo comunista autoritário russo, mantém suas ideias socialistas e aprofunda seu entendimento sobre vários temas vinculados à causa.

(Parte 1 e Parte 3)


OBRAS DE GRAMSCI EM PORTUGUÊS

Pré-cárcere
• Escritos políticos (4 volumes).
• Concepção dialética da história.
• Os intelectuais e a organização da cultura.
• Literatura e vida nacional.
• Maquiavel: a política e o Estado moderno.

Cárcere
• Cadernos do cárcere.
• Cartas do cárcere (mensagens a amigos e familiares).

SITES CONSULTADOS

http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Gramsci
http://pt.wikipedia.org/wiki/Josef_Stalin
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenin
http://pt.wikipedia.org/wiki/Benedetto_Croce
http://internationalgramscisociety.org
http://www.marxists.org/portugues/gramsci/index.htm
http://letrasparaumrio.wordpress.com/2011/11/14/gramsci-o-intelectual-organico/
http://letrasparaumrio.wordpress.com/2011/10/11/o-primeiro-gramsci/
http://www.diaart.org/gramsci-monument/page56.html
http://omarxismocultural.blogspot.pt/2014/01/o-grandioso-plano-de-antonio-gramsci.
http://www.revistarubra.org/dois-textos-de-antonio-gramsci/
http://www.litci.org/pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2077:trostky-e-a-italia-de-1920 http://www.kirjasto.sci.fi/croce.htm
http://educacao.uol.com.br/biografias/benedetto-croce.jhtm
http://www.antoniogramsci.com/cittafutura.htm

TEXTOS DE GRAMSCI CONSULTADOS

- Os Indiferentes (1917).
- Marx e o reino da consciência (1918).
- Um ano de história (1918).
- Democracia operária (1919).
- Homens de Carne e Osso (1921).
- Alguns pontos preliminares de referência (sem data).
- Todo homem é filósofo (sem data).

OUTRAS OBRAS CONSULTADAS

- BAPTISTA, Maria das Graças de Almeida. Praxis e educação em Gramsci. In: Filosofia e Educação (Online), Revista Digital do Paideia, Campinas, SP: Unicamp. v. 2, n. 1, Abr-Set 2010.
- BORGES, Regilson Maciel. Gramsci: os intelectuais e a produção da teoria. In: Filosofia e Educação (Online), Revista Digital do Paideia, Campinas, SP: Unicamp. v. 2, n. 1, Abr-Set 2010.
- GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. v. 2. 2. ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p.15-53.
- _____. Escritos políticos. Vol. II. Lisboa, Portugal: Seara Nova. A escola de cultura.
- MANACORDA, Mario Alighiero. O princípio Educativo em Gramsci. São Paulo: Editora Alínea, 2008.
- _____. História da Educação. Da antiguidade aos nossos dias. 13. ed. 12. reimpressão. São Paulo: Cortez, 2010.
- MONASTA, Attilio. Antonio Gramsci. Tradução Paolo Nosella. Recife, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. (Coleção educadores)
- PAIVA, Carlos Roberto et.al. Gramsci e a educação – Editorial. In: Filosofia e Educação (Online), Revista Digital do Paideia, Campinas, SP: Unicamp. v. 2, n. 1, Abr-Set 2010.
- PISTRAK, Moisey Mikhaylovich. Fundamentos da escola do trabalho. Tradução de Daniel Aarão Reis Filho. 1. ed. 6. reimp. São Paulo: Expressão Popular, 2008

Gramsci - Parte 3

O texto a seguir é a primeira parte de três (Parte 1 e Parte 2) e trata de um estudo para seminário sobre Gramsci. Era para ser utilizado apenas como consulta para a apresentação e por isso não houve rigor em apontar citações. Por fim, como tornou-se maior e mais completo do que esperado, optou-se por compartilhá-lo.
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Em novembro de 1926, Mussolini promulgou uma lei dissolvendo o parlamento e assumiu de vez o governo totalitário. Por seus ideais socialistas num governo fascista, Gramsci foi preso em 08 de novembro 1926, com 35 anos. Sua pena só foi decretada em 1928: 20 anos, 4 meses e 5 dias de cárcere.

Autorização para empréstimo de livros
Em 1929, conseguiu liberação para ler e escrever. Sua cunhada Tatiana Schucht (1887-1943), a irmã da esposa de Gramsci que o visitava semanalmente, levava livros, caderno, papel e lápis, material que utilizou para aprofundar suas ideias e fazer os registros futuramente conhecidos como Cartas do Cárcere e Cadernos do Cárcere. Além disso, Gramsci também era regularmente autorizado a ler livros das bibliotecas das prisões em que esteve – há listas em que constam até oito livros semanais. Em 1932, sua pena foi reduzida para 12 anos e 4 meses. Todas essas benesses que obteve enquanto estava preso, provavelmente foram devido às várias intervenções e pedidos por parte de amigos, em especial Piero Sraffa (economista e professor na Universidade de Cagliari).

De acordo com alguns autores, depois de 1932, Gramsci se afastou do Partido Comunista Italiano. É possível supor este rompimento por algumas sutilezas em seus textos como substituição de “classe proletária” por “grupos sociais”. De modo geral, a maturidade trouxe outro olhar às lutas de outrora, um olhar mais descompromissado com as dicotomias, mais compromissado com o entendimento, com a ética política.

Outros autores indicam que Gramsci saiu da prisão em 1934 para cumprir liberdade condicional, outros que saiu especificamente para tratamento a ser gozado numa clínica. Tendo mudado de clínica em 1937 para ter melhores condições de tratamento, Gramsci morreu de derrame, com sua cunhada Tatiana a seu lado. Contudo, também é possível ler que morreu em sua cela, de tuberculose, sozinho.

Ao longo dos nove anos de prisão escreveu 33 cadernos simultaneamente e divididos em temas, dos quais quatro são exercícios de tradução. Foram escritas 2.848 páginas de textos e notas nos quais registrou o que é a ditadura de proletariado, o conceito de hegemonia e ideologia, de intelectual orgânico e tradicional, e descrevendo uma profunda reforma educacional moral e intelectual das massas. Foi nos cadernos que Gramsci aprofundou suas ideias.

Dos cadernos, o que mais aborda o tema educação é o n. 12, complementado pelo n. 22 (Americanismo e fordismo) e n. 11 (Introdução à filosofia). Os cadernos foram salvos por sua cunhada Tatiana que os levou para fora da Itália. Apenas em 1947, com o fim da Segunda Guerra Mundial, seus cadernos foram editados e publicados de acordo com os temas em seis volumes pela editora Einaudi para serem, em 1975, reeditados, desta vez em ordem cronológica.

É importante ressaltar que a diversidade ideológica apresentada no mundo nos anos de 1930 (fordismo norte-americano, comunismo soviético e nazismo alemão) não esmoreceram o fervor crítico de Gramsci para tentar compreender os processos ideológicos permeados pela educação, economia e política.

Primeiro caderno (1929, 8 de fevereiro)
Aprofundando alguns conceitos em cárcere, Gramsci apontou que apesar de o intelectual não formar uma classe, tem poder sobre a superestrutura, um poder de cunho ideológico, e dividiu-o em dois tipos: orgânico e tradicional. Os tradicionais são os intelectuais que representam uma tradição histórica contínua: administradores, eruditos, cientistas, teóricos. Os orgânicos, como já antecipado, são aqueles que lideram intelectual e socialmente a sociedade por meio da educação e da cultura.

Na prisão, trocando cartas sobre sua sobrinha Mea e seus filhos, Gramsci passou a questionar também o desenvolvimento da criança e como esse desenvolvimento deve ser tratado na escola. Ele entendia que o espontaneísmo deve ser limitado à primeira infância, o que não significa deixar a criança à mercê de si mesma – a criança deve ser orientada, ensinada a se “conformar” com o social para que possa se adequar a ele, mesmo que para criticá-lo posteriormente. Por isso discorda de Rousseau e de Pestalozzi que propõe a total liberdade como forma de aprendizado.

Para Gramsci, é muito mais importante, apesar de difícil, priorizar a disciplina e a sociabilidade para então exigir sinceridade, espontaneidade, originalidade e personalidade, por isso valorizava os estudos que ao mesmo tempo tinham um caráter organizador e prática. Neste caso, usa o exemplo do ensino do latim: havia a rigidez da estrutura gramatical e paralelamente seu estudo histórico, o que trazia um entendimento da língua como um todo. Essa valorização da organização e da disciplina chega a ser tal que admira essas características no taylorismo e fordismo, e consequentemente na organização psicofísica norte americana – o que gerou algumas ideias errôneas sobre seu pensamento.

Gramsci também retoma com clareza a dicotomia entre o ensino clássico e o ensino técnico, divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual, reforçando a necessidade de vínculo entre a escola e o trabalho. Mais uma vez, é uma situação na qual se apresenta favorável ao taylorismo, por deixar para trás a animalidade humana e indicar o caminho da racionalização e consequente possibilidade de autocrítica via intelectuais orgânicos.

Ademais, o conceito de educação em Gramsci, apesar de relacionado ao ensino escolar e à dicotomia nele presente, estende-se ao uso dos meios de comunicação, às ações políticas, sindicatos, ao trabalho, às tecnologias etc., ou seja, o conceito de educação em Gramsci é um conceito amplo. Contudo, seu conceito de sistema tradicional de educação, a escola, é orientado para a escola unitária, para a formação de intelectuais orgânicos, para o qual a Rússia pós-revolução tem alguns bons exemplos e que por motivos diversos não se sustentaram – Pistrak citado anteriormente é um exemplo.

Na década de 1980, Gramsci foi muito lido no Brasil. Isso pode ser justificado pela liberdade dada após anos de ditadura militar para a leitura de clássicos marxistas. Neste sentido, Gramsci atendia a necessidade de entendimento da ideologia e da conformação instalados à época, assim como a relação do poder político e econômico com o social. Infelizmente, nesta época, o historicismo por ele tratado não foi bem aceito – historicismo para Gramsci é a filosofia da práxis. Monasta (2010) explica que isto aconteceu porque os “ismos” vêm carregados de uma sutil depreciação e normalmente atrelados à metafísica, à salvação dos problemas. Monasta (2010) apontou quatro possíveis justificativas para tal: é frustrante para os brasileiros buscarem no passado, nada agradável, o entendimento e a prática do presente; a referência escolástica ainda é predominante no Brasil; o positivismo e a sua eterna novidade de pensar o presente para o futuro impera o pensamento contemporâneo; e a influência forte do estruturalismo.

Enfim, Gramsci é uma leitura densa e longa para um caminho tão curto, mas é rica em informações e conceitos que se adensam na medida em que as experiências vão sendo vividas pelo autor. A linha do tempo deixa isto explícito. O processo de construção dos escritos, do conhecimento gramsciano foi intrincadamente histórico e dialético.

(Parte 1 e Parte 2)


OBRAS DE GRAMSCI EM PORTUGUÊS

Pré-cárcere
• Escritos políticos (4 volumes).
• Concepção dialética da história.
• Os intelectuais e a organização da cultura.
• Literatura e vida nacional.
• Maquiavel: a política e o Estado moderno.

Cárcere
• Cadernos do cárcere.
• Cartas do cárcere (mensagens a amigos e familiares).

SITES CONSULTADOS

http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Gramsci
http://pt.wikipedia.org/wiki/Josef_Stalin
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenin
http://pt.wikipedia.org/wiki/Benedetto_Croce
http://internationalgramscisociety.org
http://www.marxists.org/portugues/gramsci/index.htm
http://letrasparaumrio.wordpress.com/2011/11/14/gramsci-o-intelectual-organico/
http://letrasparaumrio.wordpress.com/2011/10/11/o-primeiro-gramsci/
http://www.diaart.org/gramsci-monument/page56.html
http://omarxismocultural.blogspot.pt/2014/01/o-grandioso-plano-de-antonio-gramsci.
http://www.revistarubra.org/dois-textos-de-antonio-gramsci/
http://www.litci.org/pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2077:trostky-e-a-italia-de-1920 http://www.kirjasto.sci.fi/croce.htm
http://educacao.uol.com.br/biografias/benedetto-croce.jhtm
http://www.antoniogramsci.com/cittafutura.htm

TEXTOS DE GRAMSCI CONSULTADOS

- Os Indiferentes (1917).
- Marx e o reino da consciência (1918).
- Um ano de história (1918).
- Democracia operária (1919).
- Homens de Carne e Osso (1921).
- Alguns pontos preliminares de referência (sem data).
- Todo homem é filósofo (sem data).

OUTRAS OBRAS CONSULTADAS

- BAPTISTA, Maria das Graças de Almeida. Praxis e educação em Gramsci. In: Filosofia e Educação (Online), Revista Digital do Paideia, Campinas, SP: Unicamp. v. 2, n. 1, Abr-Set 2010.
- BORGES, Regilson Maciel. Gramsci: os intelectuais e a produção da teoria. In: Filosofia e Educação (Online), Revista Digital do Paideia, Campinas, SP: Unicamp. v. 2, n. 1, Abr-Set 2010.
- GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. v. 2. 2. ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p.15-53.
- _____. Escritos políticos. Vol. II. Lisboa, Portugal: Seara Nova. A escola de cultura.
- MANACORDA, Mario Alighiero. O princípio Educativo em Gramsci. São Paulo: Editora Alínea, 2008.
- _____. História da Educação. Da antiguidade aos nossos dias. 13. ed. 12. reimpressão. São Paulo: Cortez, 2010.
- MONASTA, Attilio. Antonio Gramsci. Tradução Paolo Nosella. Recife, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. (Coleção educadores)
- PAIVA, Carlos Roberto et.al. Gramsci e a educação – Editorial. In: Filosofia e Educação (Online), Revista Digital do Paideia, Campinas, SP: Unicamp. v. 2, n. 1, Abr-Set 2010.
- PISTRAK, Moisey Mikhaylovich. Fundamentos da escola do trabalho. Tradução de Daniel Aarão Reis Filho. 1. ed. 6. reimp. São Paulo: Expressão Popular, 2008

Gramsci - Parte 1

O texto a seguir é a primeira parte de três (Parte 2 e Parte 3) e trata de um estudo para seminário sobre Gramsci. Era para ser utilizado apenas como consulta para a apresentação e por isso não houve rigor em apontar citações. Por fim, como tornou-se maior e mais completo do que esperado, optou-se por compartilhá-lo.
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Para entender as ideias de Gramsci é importante tentar compreender o que ele produziu ao longo da vida acompanhando o desenvolvimento de seu pensamento. Para dar suporte à empreitada, uma pergunta apontada por Monasta (2010, p. 29) talvez auxilie na condução do caminho trilhado por esse intelectual orgânico, usando o próprio termo gramsciano: “Qual é a função educativa de uma descrição objetiva (...) dos mecanismos da ideologia?”.

Seguindo uma linha do tempo entre 1891 e 1937, eventos marcantes na vida pessoal e política, assim como eventos nacionais e internacionais, fortaleceram ou esmoreceram os ideais de Gramsci, tornando, o conjunto, um caminho de idas e vidas com o único objetivo: compreender a ideologia e dobrá-la de modo que qualquer “camponês” possa “governar”.

Gramsci nasceu em 22 de janeiro de 1891, em Ales, na província de Cagliari, na Sardenha, Itália. Foi o quarto de sete filhos de Francesco Gramsci e Giuseppina Marcias. Sua relação como o pai não era próxima, mas tinha grande afeição por sua mãe. Dos seis irmãos, parece ter herdado o interesse pela leitura por influência da irmã mais nova, Teresina, e compartilhado interesses próximos com o irmão mais velho da família, Genaro (inclusive influenciando Gramsci em relação ao socialismo), e o caçula, Carlo. Quando Gramsci era ainda criança, adquiriu um defeito nas costas decorrente de uma doença, provavelmente poliomielite, e por isso não media mais do que 1,50 m, contudo é possível encontrar referências de que ficou corcunda por uma suposta queda das mãos de uma cuidadora quando tinha aproximadamente 4 anos.

Em 1897, seu pai Francesco foi preso e ficou encarcerado por cinco anos, por supostos abusos administrativos – Francesco trabalhava como ourives. Logo depois da prisão, sua mãe mudou-se com a família para Ghilarza, também na Sardenha, onde Gramsci frequentou a escola elementar. Foi uma época de muitas privações e fome. Sua mãe trabalhava fazendo costura e, ao que tudo indica, seu irmão Genaro tentava ajudar trabalhando na Câmara do Trabalho local, tornando-se posteriormente secretário do Partido Socialista Italiano.

Com o pai ainda preso em 1902, Gramsci chegou a trabalhar, com 11 anos, no escritório fiscal de Ghilarza – período em que abandonou a escola, mas não os estudos – o que já aponta indícios de sua disciplina em relação aos estudos.

Voltando à escola, finalizou os estudos secundários no Dettori Liceum, em Cagliari, onde morava com o irmão Genaro (foram aí os primeiros contatos com as demandas da classe trabalhadora), também vivendo em difíceis condições sem o apoio do pai, ao qual várias vezes referiu-se como negligente.

Com excelentes notas na escola, em 1911, tentou e conseguiu uma bolsa de estudos para o Colégio Carlo Alberto, em Turim, caracterizando uma fase, até 1915, de dedicação aos estudos. Gramsci optou por fazer Faculdade de Letras, tendo sido um brilhante estudioso de filosofia, história e línguas, em especial, glotologia (estudo dos dialetos). Neste período, formou sua matriz ideológica a partir do idealismo de Benedetto Croce (1866-1952).

Croce foi historiador e filósofo, figura eminente na Itália no início do séc. XX, estudioso de Hegel e Marx, e apesar rejeitar o determinismo marxista, ficou conhecido como tal. Elaborou sua própria filosofia do espírito, atrelando arte à história. Para ele, a arte deveria ser considerada acima da ciência. Foi considerado elitista e favorecedor da cultura espontânea, acrescida de uma tendência socialista um tanto contraditória – era a favor da democracia, mas não acreditava na sua possibilidade. Apesar de considerar o fascismo um movimento político promissor, mudou de ideia posteriormente tornando-se conhecido por sua postura antifascista. Com o fim da segunda Guerra, optou pela monarquia em oposição ao fascismo e ao socialismo.

Em 1913, com 22 anos, Gramsci abraçou a militância ao ingressar na Federação Juvenil Socialista, situação que aproveitou para estudar os jovens operários e estudar alemão para aprofundar os estudos marxistas.

Em 1914, estourou a Primeira Guerra Mundial e, no ano seguinte, por causa da saúde frágil e consequentes dificuldades financeiras, abandonou o curso em Turim, o que deve ter gerado controvérsias de ordem pessoal, tendo em vista as dificuldades em ingressar no ensino superior. Porém, com o abandono do curso, houve mais tempo para se dedicar à militância e ao jornal, tendo contribuído com críticas nas áreas do teatro e da política nos jornais Avanti! (tornando-se posteriormente parte do grupo editorial) e n’O grito do povo (semanário). Suas críticas eram sempre respaldadas historicamente defendendo a cultura e o fortalecimento da consciência operária. Em 1916, ainda em período de guerra, foi liberado do serviço militar por sua saúde debilitada.

Em 1917, já com 26 anos, publicou um jornal-opúsculo de quatro páginas, garantindo sua entrada na Federação Juvenil Socialista. O jornal-opúsculo, denominado A cidade futura, era composto pelos textos: Três princípios, três ordensOs indiferentesDisciplina e liberdadeAnalfabetismoA disciplinaDois convites à meditaçãoMargensModelo e realidadeO movimento jovem socialista – textos encontrados em português nas coletâneas de escritos políticos de Gramsci.

No mesmo ano, chegou a ser secretário do partido comunista italiano por um curto período, além de diretor e único redator do jornal O grito do povo. Essa situação se deu por causa da prisão de vários dirigentes socialistas regionais, consequência dos movimentos políticos da Primeira Guerra Mundial.

Tendo sido contemporâneo à Revolução Russa e vivido a Primeira Guerra Mundial, Gramsci entendia que as revoluções deveriam ser fundamentadas como um fato moral, uma referência ao ser, consequência da vontade geral. Especificamente, em relação à Revolução Russa, fez questão de valorizar o estabelecimento do sufrágio universal na Rússia que também foi estendido às mulheres; ademais, ressaltou favoravelmente a liberdade dada aos presos políticos e aos de baixa criminalidade como um ato de valorização do ser humano, um contraponto às vontades do cerceamento burguês – justificativa dada à maioria das causas das prisões.

De fato, antes da Revolução Russa podiam ser contadas 10 raças entre 170 milhões de habitantes que vinham perdendo a autonomia, a liberdade, buscando consciência. Em 1918, apesar da Rússia continuar na miséria e sua situação ainda ser de penúria, com pessoas sendo perseguidas e assassinadas, Gramsci mantinha esperanças em relação ao Estado comunista.

Em 1919, Gramsci fundou o jornal semanário Ordine Nuovo, com Angelo Tasca, Umberto Terracini e Palmiro Togliatti, cuja temática política e cultural tornou-se referência socialista. Ainda no mesmo ano foi eleito para a Comissão Executiva da seção de Turim do Partido Socialista Italiano. Sua participação nos conselhos em Turim (considerada a Cidade Vermelha por consequência da alta industrialização e movimentos proletários) tinham como tema a classe operária, o feminismo, revolução francesa, ópera, teatro, Revolução Francesa, entre outros temas, inclusive a importância da unificação do movimento socialista contra o fascismo crescente.

Enquanto estava na comissão, defendeu que as Comissões Internas fossem Conselhos de Fábrica no qual os operários deviam ter total participação na eleição e candidatura. Nesta época escreveu sobre as organizações sociais e a democracia operária. O estímulo aos movimentos operários era tamanho que em setembro de1919 houve a primeira eleição de um Conselho de Fábrica com 2 mil operários votantes e, ao final do ano, o Ordine Nuovo anunciou mais de 150 mil operários participando como votantes de outros conselhos.

Em relação ao funcionamento das organizações, para Gramsci, cada 15 operários, divididos por categorias, deveriam ser representados por um delegado eleito, dos delegados eleitos seriam eleitas outras pessoas e assim sucessiva e gradualmente, até que o comitê das fábricas fosse formado. Nos bairros residenciais, por exemplo, os comitês seriam integrados por delegados com profissões diversas e articulados de tal maneira que seria possível suspender todo trabalho a qualquer momento. Dos comitês nos bairros sairiam os comissariados urbanos, “controlados e disciplinados pelo Partido” e federações profissionais. No campo, a composição seguiria a mesma ideia, em especial considerando a desigualdade entre o sul e o norte italianos – rural e industrial, respectivamente.

Gramsci acreditava que o Estado proletário deveria ser definido a partir das organizações sociais em contraposição ao Estado burguês hierárquico e excludente, de modo que fosse possível gerir e manter o patrimônio nacional democraticamente. De acordo com ele, o Estado socialista já existia nas agremiações sociais, “características das classes trabalhadoras exploradas”, que deviam ser valorizadas e expandidas. Essa valorização se dava porque era impossível para o Partido Socialista e sindicatos darem conta de todos os trabalhadores – o partido encarregar-se-ia da coordenação ideológica, da doutrina, da orientação, da educação; os sindicatos do “controle e realizações parciais”; as agremiações sociais das ações pontuais.

Como Gramsci considerava que a filosofia estava contida na linguagem, no senso comum (e no bom senso) e na religião popular (estendido aí ao folclore), entendia que a filosofia faz parte da natureza histórico-social do homem e, por isso, seria possível um Estado socialista onde todos participassem politicamente. Para ele, os homens, ao pertencerem a um grupo, adotam uma determinada concepção de mundo, compartilhando modos de pensar e agir. Fazer autocrítica significa tornar essa concepção de mundo coerente, unitária, de pensamento evoluído, filosófica e historicamente construída.

Com os anos, Gramsci complementou esse pensamento unindo a filosofia à história da filosofia e a cultura à história da cultura. Neste sentido, a história situa o pensamento no presente, de modo a não cometer os erros passados e superados. Ademais, a linguagem atrelada à cultura deveria ser explorada tanto no sentido de aprender outros dialetos e línguas estrangeiras quanto outras culturas – desse modo, é possível a ampliação de concepções e interesses, reforçando, consequentemente a própria concepção do mundo. A ideia era tornar todos os homens intelectuais autocríticos participantes da política do Estado, assim como na sua gestão e manutenção, homens formadores do espírito público.

(Continua: Parte 2 e Parte 3)

OBRAS DE GRAMSCI EM PORTUGUÊS

Pré-cárcere
• Escritos políticos (4 volumes).
• Concepção dialética da história.
• Os intelectuais e a organização da cultura.
• Literatura e vida nacional.
• Maquiavel: a política e o Estado moderno.

Cárcere
• Cadernos do cárcere.
• Cartas do cárcere (mensagens a amigos e familiares).

SITES CONSULTADOS

http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Gramsci
http://pt.wikipedia.org/wiki/Josef_Stalin
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lenin
http://pt.wikipedia.org/wiki/Benedetto_Croce
http://internationalgramscisociety.org
http://www.marxists.org/portugues/gramsci/index.htm
http://letrasparaumrio.wordpress.com/2011/11/14/gramsci-o-intelectual-organico/
http://letrasparaumrio.wordpress.com/2011/10/11/o-primeiro-gramsci/
http://www.diaart.org/gramsci-monument/page56.html
http://omarxismocultural.blogspot.pt/2014/01/o-grandioso-plano-de-antonio-gramsci.
http://www.revistarubra.org/dois-textos-de-antonio-gramsci/
http://www.litci.org/pt/index.php?option=com_content&view=article&id=2077:trostky-e-a-italia-de-1920 http://www.kirjasto.sci.fi/croce.htm
http://educacao.uol.com.br/biografias/benedetto-croce.jhtm
http://www.antoniogramsci.com/cittafutura.htm

TEXTOS DE GRAMSCI CONSULTADOS

- Os Indiferentes (1917).
- Marx e o reino da consciência (1918).
- Um ano de história (1918).
- Democracia operária (1919).
- Homens de Carne e Osso (1921).
- Alguns pontos preliminares de referência (sem data).
- Todo homem é filósofo (sem data).

OUTRAS OBRAS CONSULTADAS

- BAPTISTA, Maria das Graças de Almeida. Praxis e educação em Gramsci. In: Filosofia e Educação (Online), Revista Digital do Paideia, Campinas, SP: Unicamp. v. 2, n. 1, Abr-Set 2010.
- BORGES, Regilson Maciel. Gramsci: os intelectuais e a produção da teoria. In: Filosofia e Educação (Online), Revista Digital do Paideia, Campinas, SP: Unicamp. v. 2, n. 1, Abr-Set 2010.
- GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. v. 2. 2. ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p.15-53.
- _____. Escritos políticos. Vol. II. Lisboa, Portugal: Seara Nova. A escola de cultura.
- MANACORDA, Mario Alighiero. O princípio Educativo em Gramsci. São Paulo: Editora Alínea, 2008.
- _____. História da Educação. Da antiguidade aos nossos dias. 13. ed. 12. reimpressão. São Paulo: Cortez, 2010.
- MONASTA, Attilio. Antonio Gramsci. Tradução Paolo Nosella. Recife, Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. (Coleção educadores)
- PAIVA, Carlos Roberto et.al. Gramsci e a educação – Editorial. In: Filosofia e Educação (Online), Revista Digital do Paideia, Campinas, SP: Unicamp. v. 2, n. 1, Abr-Set 2010.
- PISTRAK, Moisey Mikhaylovich. Fundamentos da escola do trabalho. Tradução de Daniel Aarão Reis Filho. 1. ed. 6. reimp. São Paulo: Expressão Popular, 2008