sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Que tempo verbal uso no texto?

Um colega enviou um e-mail hoje sem saber como colocar uma justificativa de um texto na terceira pessoa do plural. Fiquei pensando no quão difícil foi pra mim, no início do mestrado, perceber os erros que muitas vezes, na preocupação de por pra fora, de escrever com coesão, de expor os argumentos dos outros e os meus, vinham em enxurrada. Nossa! Relia os textos e ficava impressionada com as falhas, vícios de escrita, mas sempre com um olhar crítico para encontrar os problemas sem precisar de um revisor (até porque não poderia pagar um).

Aos poucos fui tentando acertar, vendo os retalhos, encontrando erros, lembrando os momentos em que escrevi aquilo para encontrar uma justificativa para o meu posicionamento... Uma loucura! Relia os textos muitas vezes, sempre com um olhar renovado. Muitas vezes parava para fazer qualquer outra coisa para refrescar os canais mentais. Às vezes vinha o texto no singular, outras no plural, às vezes na terceira pessoa e outras na primeira pessoa. Realmente, terrível.

Enfim, não sei se é o caso dele, mas exatamente por ter me visto numa situação parecida com a dele, respondi o e-mail com paciência e depois o adaptei para postar aqui.

Eis minhas colocações....

Se você vai escrever na 1ª pessoa do singular, pense na fala intimista, que aproxima, na fala de quem se expõe, de quem está se colocado como sujeito da ação. É um tempo verbal bem visto nas narrativas e é o que tendemos a usar quando nos justificamos - a justificativa é de cada um e de ninguém mais, é um ponto de vista.

POR EXEMPLO:
"Como professora de escola pública, (EU) passei por momentos de angústia quanto às minhas funções. Nos momentos de reflexão brotavam questões sobre o perfil de um bom profissional e sobre os papéis assumidos pelo bom professor. Muitas vezes (EU) queria saber como viabilizar um ensino com igualdade de oportunidades para os alunos, no qual o conhecimento fosse (re)construído conjuntamente e, no entanto, quase sempre (EU) escutei sobre o mau professor: aquele que não correspondia às expectativas diversas dos pais, alunos e comunidade, que não correspondia às expectativas da mídia, dos órgãos públicos ou das próprias instituições de ensino que pareciam não valorizar ou se importar com os menos favorecidos social, cultural, política ou economicamente.

Claro que minha “pesquisa” (DO EU), subjetiva e não sistematizada, não tem nada de científica, mas com certeza o dito popular “de médico e louco todo mundo tem um pouco” pode ser facilmente trocado por “de médico, professor e louco todo mundo tem um pouco”. De qualquer maneira, tentar entender, por meio de observações, a percepção da sociedade em geral a respeito do trabalho de sala de aula e a visão do profissional professor foi no mínimo interessante, mas, é claro, não sanou minhas dúvidas (DO EU) sobre sua atual função e qualidade do seu trabalho."

Já na 1ª pessoa do plural, a fala continua intimista mas agora fazendo parte de um grupo. Acho particularmente escrever um texto todo no plural, nem sei se dá. Acho complexo pensar no grupo o tempo todo. Quando faço isso, venho de uma fala no singular e o plural aparece para falar do grupo no qual me insiro, ou seja, para fortalecer o posicionamento do singular.

POR EXEMPLO:
"Todos fomos (NÓS) alunos e nossa memória está permeada de histórias associadas a professores, sejamos (NÓS) novos professores ou não. Assim, tentar entender, por meio de observações, a percepção da sociedade em geral a respeito do trabalho de sala de aula e a visão do profissional professor foi no mínimo interessante, mas, é claro, não sanou (EU) minhas dúvidas sobre sua atual função e qualidade do seu trabalho."

3ª pessoa do singular, é o tempo verbal mais comum em textos científicos. É um tempo verbal que expõe um observador externo. É usado para se distanciar, na tentativa do escritor não se envolver e poder ter uma visão geral. É como se o olhar fosse de quem sobrevoa.

POR EXEMPLO:
"O professor não está (ELE) e nem foi preparado (ELE) para lidar com as profundas e rápidas transformações presenciadas no seu cotidiano. No entanto, as atuais modificações tecnológicas obrigam-no (ELE) a se mobilizar e se posicionar quase imediatamente. É como se o homem da atualidade vivenciasse (ELE) o desenvolvimento de um tecido biológico tecnossocial. Cada nova informação é sentida como uma pisada no pé: no momento da pisada, a dor se manifesta (NELE) e o organismo reage por meio de uma resposta, um reflexo que pode ser gritar ou tirar o pé. Entretanto, se a resposta não é imediata, a sensação de desconexão, social e cultural, instala-se; como se o homem não estivesse em pleno funcionamento, como se estivesse doente.

Assim, tornou-se essencial (PARA ELE) participar de redes de comunicação, redes sociais e de aprendizagem, saber o que é um AVA, OA, tutorial, fórum, blog, chat e wiki, saber utilizar celular, BlackBerry, Ipod, MP3, MP4, Palmtop e Tablets. São as novas tecnologias e a internet que também passam a fazer parte da escola e mobilizam o corpo docente a se manifestar, a se inteirar de algo para o qual não foi preparado, para o qual não tinha ideia de que iria aparecer.

Se antes as discussões a respeito de tecnologia nas aulas de matemática se limitavam ao uso da calculadora, como fazer agora com toda essa nova tecnologia à disposição? As ferramentas de interação cabem na palma da mão e não estão mais limitadas a uma simples calculadora com as quatro operações básicas."

Agora, na 3ª pessoal do plural, a fala é de quem se distancia e vê um grupo. Não basta apenas se distanciar e sobrevoar, tem que descrever o grupo. Fala-se deles, daqueles, sem se posicionar no grupo. O escritor é um observador externo ao grupo.

POR EXEMPLO:
"Os professores das escolas passam (ELES) por momentos de angústia quanto às funções assumidas. São momentos de reflexão nos quais é possível que brotem (DELES) questões sobre o perfil de um bom profissional, sobre os papéis assumidos pelo bom professor. Momentos nos quais, muitas vezes, também é possível apontar uma ansiedade em prol de um ensino com igualdade de oportunidades, no qual o conhecimento seja (re)construído conjuntamente."

Resumindo: 
Acho que tudo no plural é complicado, seja na 1ª ou 3ª pessoa. Então, a primeira dica é decida o seu lugar de fala, se você vai falar do seu EU ou do observador externo ELE.

Se vai falar do lugar do EU, daquele que se envolve, que está vivenciando o que coloca, ou seja, primeira pessoa, tome o cuidado de sempre falar de si.

A outra opção é falar da posição da terceira pessoa, da que se distancia, da que observa, com um olhar externo. Dá um pouco de trabalho, pois a tendência é nos aproximarmos quando nos identificamos, mas acho que fica melhor escrito.

Se quiser escrever no plural, sugiro que primeiro escolha o lugar de fala, treine bastante para depois se aventurar. Até porque escrever ora no plural ora no singular não tem nada de elegante.

Particularmente acho muito difícil escrever tudo a primeira pessoa, principalmente quando se trata de exposição de argumentos. Não dá pra colocar fala de outras pessoas e continuar falando de mim... É muito ego inflado! Mas há algumas situações e alguns estudos que aceitam e fica bem esse tipo de texto: psicanálise, algumas áreas da psicologia, áreas associadas à fenomenologia ou às pesquisas com narrativas. Mas isso é a minha opinião.

Enfim, manda ver... Decida-se e comece a escrever. Para isso sempre tem que haver um primeiro passo!

domingo, 21 de agosto de 2011

Escuta mas não entende?

Nos últimos meses estou às voltas com minha dissertação de mestrado - na verdade, com a análise das entrevistas, observações e as últimas visitas à escola. Por isso não tenho escrito muito por aqui... Minhas mãos estão pedindo descanso!

Mas foi com as visitas na escola em que fiz observações e entrevistas para minha pesquisa, que descobri a existência de mais um distúrbio que interfere no aprendizado, mais especificamente, na comunicação... DPAC.

DPAC significa Distúrbio do Processamento Auditivo Central e é uma alteração no funcionamento do Processamento Auditivo que cria uma falha e impede a capacidade de analisar e interpretar os sons. Ou seja, a pessoa não entende àquilo que ouve, mesmo que apresente uma audição normal.

Isto significa que a pessoa com DPAC tem:
- Dificuldade para relatar conversas ouvidas, dar recados, etc.;
- Pede, com frequência, para que repitam as informações: Hã? O quê? Ou pode dar uma resposta incompatível com a pergunta;
- Dificuldade para decorar nomes, datas, números etc.;
- Dificuldade para entender o que o outro fala, onde há outras pessoas falando ou sons em volta;
- Facilidade em entender errado o que foi dito;
- Dificuldade para localizar da onde vem o som;
- Nota-se ainda, que é desorganizada e esquecida;
- Entre outros.

E na escola...
- Parece desligado, precisa ser chamado várias vezes;
- Dispersa facilmente, muita dificuldade em manter-se concentrado;
- Dificuldade acima do comum para desenvolver a leitura e a escrita;
- Demora mais que os colegas para finalizar as atividades;
- Dificuldade em narrar ordenadamente uma situação que ouviu falar ou mesmo vivenciou.
- Dificuldade para responder rapidamente ao que foi solicitado;
- Pode ser muito tímido ou muito agitado;
- Informações abstratas são mais difíceis para serem compreendidas;
- Dificuldade com o ritmo e na coordenação motora;
- Entre outros.

Mas isto não significa uma vida com dificuldades na comunicação... O quanto antes o DPAC for identificado por um fonoaudiólogo, por meio de exames específicos para o Processamento Auditivo Central, mais cedo o tratamento ocorrerá. Ou seja, há tratamento e não é demorado se tratado cedo e adequadamente.

A pessoa diagnosticada com DPAC, em princípio, deve receber assistência multidisciplinar e especializada junto ao fonoaudiólogo e ao pedagogo. Também é importante fazer uma avaliação com neurologista no sentido de apurar se ainda há outros comprometimentos ou não.

Para mais informações ou outros contatos: depac.movimentoemdefesa@gmail.com