As apostilas...

Pronto, era isso que estava faltando para poderem, mais uma vez, usar como justificativa para responsabilização dos professores por toda a falência no ensino: as apostilas.

Todo mundo que já deu aula, sabe que as apostilas engessam as aulas e anulam a possibilidade de conversar e utilizar com os alunos temas atuais diversos para tornar as aulas mais conectadas com a vida fora da escola. Quer um exemplo: Copa do mundo! Numa escola onde há uso da apostila esse tipo de opção para trabalho se torna inexistente. Por que? Ué, se o professor já tem a aula do dia programada, ou que seja a da semana, por alguém que nem está na escola e cuja proposta é, a priori, generalista e atemporal, Copa do Mundo não é um tema abordado.

Mas veja bem, como prof de matemática, época de Copa do Mundo é perfeita para ensinar regra de três!! É isso mesmo... Como todas as bandeiras tem tamanhos e proporções diferentes, nada mais legal do que brincar de aumentar e diminuir bandeiras diversas para depois, na aula de artes plásticas, os alunos criarem bandeiras criativamente. Por exemplo, a bandeira da Suíça e do Vaticano são quadradas (1x1),

a da Argentina é retangular na proporção 9x14...

Como fazer isto?? Converse com seus colegas, mas antes não se esqueça de propor aos alunos! Via de regra eles ficam super animados. O que fizemos? Montamos um mural enorme no pátio da escola com a tabelas dos jogos, infos sobre os países (a prof de história ajudou e a de geografia não pilhou) e as bandeiras, na proporção correta, feitas em papel A4 (com a prof de artes). Ficou lindo! E as bandeiras mais ainda!!! 

Os alunos usaram materiais e técnicas diferentes na criação das bandeiras: giz de cera queimado, tinta respingada, canetinha para fazer pontinhos, papel colado rasgado ou de bolinha... cada uma de um jeito diferente... Lindo demais! Na época tiramos muitas fotos, mas não tenho nenhuma aqui... uma pena...

E o mais legal era que quem preenchia a tabela com os resultados eram os alunos que se mantinham informados e a primeira coisa pela manhã era atualizar o que ainda não estava anotado. Os resultados dos jogos ficaram registrados com várias letras diferentes! Além disso, também dá para trabalhar probabilidades ou possibilidades a partir das tabelas e previsão de resultados!!!

Mas é obvio que não cabe em uma aula... Se não me falhe a memória, ficamos uma semana e meia ou duas estudando regra de três e passeando pelas possibilidades... Ou seja, se estivéssemos usando apostila, em que momento poderíamos fazer isto? Eu poderia ter usado umas duas ou três aulas para trabalhar regra de três, escala, ampliação e redução e depois "correria" para dar os conteúdos da apostila para alcançar os dias vencidos e, ainda, quando chegasse no tema regra de três faria tudo de novo? Ou, se já tivesse dado regra de três não poderia trabalhar várias aulas novamente pois seria privilegiar um assunto em detrimento a outro?? Ou ainda, simplesmente não correr com o conteúdo da apostila e assumir a dor de cabeça no final do ano com direção, coordenação e pais cobrando a apostila incompleta... Aliás, pela qual a escola paga, sendo que o livro didático é gratuito (e este é outra conversa!).

Nada feito!!!!! EU quero liberdade para ensinar conteúdos aos meus alunos de acordo com as possibilidades que envolvem o estar em sala de aula numa escola onde os muros são transpostos!! Os muros intransponíveis fazem da escola um ambiente inóspito para mentes criativas, para a diversidade, para o respeito, para o diálogo. E como muitos dos alunos hoje em dia têm apenas este contato para lidar com o outro (não estou falando de contatos virtuais em ambientes de internet!), é de responsabilidade da escola, e não apenas do professor, promover esse espaço!

É bem provável que se eu tivesse que trabalhar com apostilas houvesse uma conversa do tipo: "Caros colegas, não aceito esta imposição. Quero liberdade para trabalhar com os meus alunos os conteúdos básicos conectados ao que a vida nos oferece. Por isto como profissional, como educadora, como uma pessoa crítica que entende a necessidade da diversidade, da cultura e da conexão da escola com o mundo fora desses muros, me manifesto: ou o meu trabalho ou o trabalho de alguém que nem está aqui, o trabalho de quem elaborou a apostila e não conhece esta realidade!". E isto, não é ser radical, é saber o que é necessário para uma boa educação!

Aliás, antes que eu me esqueça, que a bandeira da Holanda (2x3 - tamanho sugerido pela ONU e usado na bandeira de vários países) se mantenha respeitosamente estirada láaaaa na Europa e que a do Brasil (7x10) possa ser aberta pelo mundo inteiro!!!!!

Bom jogo amanhã!!!!!