História de um celular...

Mais uma vez vou fugir um pouco do tema central do blog, mas como vivemos aprendendo e aprendemos vivendo, talvez, de alguma maneira, a história que vou contar sobre o que aconteceu comigo, sirva de lição para alguém...

Na quarta-feira, pela manhã, bem dorminhoca que sou já que vou dormir tarde, acordei às 8h07 recebendo uma ligação de uma moça muito gentil procurando por alguém (que nem querendo eu lembraria o nome!) e que eu nunca nem tinha ouvido falar - algo como aquelas ligações de telemarketing. Como de vez em quando recebia uma ligação desse tipo, procurando por uma pessoa qualquer, não me incomodei. Aqui não tem ninguém com esse nome. Tentei me encontrar com Morfeu novamente.

Entretanto, uns dois minutos depois outra moça gentil ligou procurando por uma outra pessoa, cujo nome também não me lembro. O número era diferente, achei que era uma simples coincidência e como Morfeu ainda me chamava, desconsiderei essa perturbação, disse que não sabia quem era o ser humano a ser procurado. Dormi novamente... por dois minutos e fui acordada pela terceira moça gentil que procurava por uma terceira pessoa, também inominável. Não sei quem é... A senhora ligou para o número errado.

Morfeu nessa hora foi embora. Que triste! Iremos nos encontrar somente mais tarde... Fiquei brava, mas como a moça tinha sido gentil, virei para o lado e fiquei olhando para o teto: Acalme-se... Você precisa se levantar, ligar o computador e escrever mais um pouco. Você está atrasada com a entrega do material da sua qualificação. Aproveite que já acordou mesmo, tome um banho e mãos à obra!


Mas, opa!!! Outra moça? De outro número? Procurando por mais um sicrano? A quarta ligação em 7 minutos!!! Tem algo errado no reino de Graham Bell! Não é mais uma simples coincidência! Independentemente da quantidade de gentilezas das moças e eventuais moços, a cada 1 minuto, mais ou menos, comecei a receber ligações de diferentes pessoas, de DDD's de diferentes locais do Brasil, perguntando por pessoas das quais nunca tinha ouvido falar!

Olá, bom dia, é a Sra. Sandra De Tal que está falando? 
Olá, bom dia, poderia falar com Sr. Cristiano Disso?
Olá, bom dia, esse número é de Sr. José Luis Daquilo? 
Olá, bom dia, por favor, o Sr. Ademir Daquilo Outro está?

Anas, Joanas, Joaquims, Antonios, Luizes e por aí vai... Sempre com os sobrenomes diferentes, procurados por pessoas com sotaques diferentes...

Era como se o número do meu telefone estivesse no cadastro de várias empresas do Brasil. Banco Real, Banco BMG, Banco do Brasil, Banco Daquele Outro, escritórios de advocacia e contabilidade, empresas de empréstimo e construtoras... Nossa... Quantos lugares! E como sei disso? Ué, tentei de alguma maneira entender o que estava acontecendo... Ver se havia algo em comum ou incomum....

Ao que parece, todas as empresas tinha cadastros dessas pessoas no computador... Se estavam todas devendo algo, não sei... Se as máquinas foram hackeadas, não sei... Se era golpe dos grandes, não sei... Só sei que o número do meu celular caiu no mundo!!!!

Tentei explicar a situação para algumas das pessoinhas falando sobre as ligações que eu estava recebendo e que o sistema delas poderia ter sido hackeado ou algo do tipo, que o cadastro poderia ser falso e por aí vai. Algumas delas ouviram e agradeceram ou pediram desculpas (não sei culpa de quê!)... Mas uma das gentis moças, na verdade, foi até bastante engraçada. Quando terminei de explicar o que eu achava que estava acontecendo, ela ficou nervosa e me respondeu: Olha, você pode dizer o que quiser, mas a gente vai continuar ligando pra você, viu!!!! Ui! Claro que vi que a ameaça dela não iria dar em nada... Eu não era a pessoa procurada. O máximo que iria acontecer seria ela continuar gastando interurbano procurando por uma pessoa num número inexistente. Caí na risada!

Só para se ter uma ideia do que aconteceu, entre ligações atendidas, recusadas e perdidas, das 8h00 às 9h30, foram umas 120 ligações! Por que atendi um monte? Porque depois que caiu a ficha que as ligações não iam parar entrei em desespero! As pessoinhas, moças e moços gentis, começaram a deixar recados na secretária eletrônica e enviar mensagens para que a Sra. Sandra De Tal e Sr. Cristiano Disso retornassem as ligações para 0800's e outros números. Fora as mensagens do querido Vivo Avisa - serviço que envia mensagem quando uma ligação não é atendida. Por que não desliguei? Porque os 5 minutos de telefone desligado me renderam outras mensagens na caixa da secretária eletrônica e outras mensagens do Vivo Avisa. Ou seja, meu telefone não parou de tocar, vibrar, chiar, apitar, por uma hora e meia e não tinha como eu ignorar!!!!

Enquanto eu tentava ligar para a Vivo, recebia uma chamada de DDD 31 ou 62. Assim, atendia a que estava chamando, avisava que não sabia quem era a pessoa que estavam procurando, perguntava de onde era e anotava (sistemática eu não?!). Se eu estava atendendo uma ligação (e a Vivo esperando enquanto eu atendia, ou era eu que esperava?!) e recebia outra ligação, de outra pessoinha, logo na sequencia apitava mais um recado na secretária eletrônica. Aprendi a alternar entre ligações, mesmo tendo desligado a Vivo duas vezes sem querer! E continuei manejando as ligações, esperando ser atendida pela Vivo, atendendo outras ligações, aguardando a moça gentil da Vivo, a caixa de entrada de mensagens apitando, recebendo a notícia de que a Vivo não tinha muito o que fazer a não ser enviar para a área técnica, eu dizendo rapidamente que era engano, rejeitando a ligação, a mensagem do Vivo Avisa apitando.

Enfim, esperar por uma solução a ser dada no prazo de 3 dias úteis, tornou-se algo risível! E no meio desse emaranhado de ligações que iam surgindo como calangos no cerrado, lembrei de bloquear a linha!!!

Outra via sacra: liga para a Vivo, atende ligação e explica a situação para a pessoinha, cai ligação para a Vivo, rejeita ligação (quero só falar com a Vivo), liga para a Vivo novamente, atende outra ligação e tenta explicar novamente a situação para outra pessoinha, espero a moça gentil da Vivo, apita a mensagem da ligação rejeitada, apita a mensagem de ligação que caiu direto na caixa, a moça gentil da Vivo é gentil, por favor, estou louca aqui, bloqueie minha linha, outra ligação rejeitada enquanto falo com a moça gentil, poxa é a terceira ligação desde que começamos a falar, a moça gentil da Vivo ri, é gentil e bloqueia a linha............. O silêncio............. Consigo pensar!

Trote de presídio? Poxa, fala sério... 120 ligações com diferentes vozes e sotaques, com DDD's e números diferentes... Será que os caras estão tão bons assim? Mas perguntaram meu nome apenas algumas poucas vezes, quatro se muito, e quando disse que não falaria por uma questão de segurança minha, as pessoinhas foram compreensivas.

Hackearam os sistemas dessas empresas e colocaram um número aleatório, nada de aleatório para mim, apenas para ver o oco? Mostrar que podem fazer esse tipo de acesso?

Lista de devedores, parte de um grande golpe iniciado há pelo menos três meses (é esse o tempo que levam para começar a fazer cobranças, certo?), no qual utilizaram um número aleatório qualquer e que funcionava - de novo, nada aleatório para mim.

Resumo: a VIVO não sabe o que houve, muito menos eu. De acordo com eles, a análise do caso será feita e em breve entrarão em contato comigo (será?!).

A única coisa certa dessa história é que eu não fico passando meu telefone por aí, nem divulgando na web.

Hoje depois do almoço desbloqueei para sair e resolver umas coisas. Acho legal ficar com o celular à disposição, para qualquer emergência (total neura, certo?). Foram mais umas 30 ligações entre 13h30 e 19h30. Bem menos do que ontem, cansativo também pela repetição, mas estava com a cabeça tranquila... Olá, pois não, não tem ninguém com esse nome aqui não, ok, tchau! Já não tinha mais graça saber de onde estavam falando... No fundo sabia que teria que trocar o número: dentro das possibilidades de conspiração não havia qualquer possibilidade de eu me livrar de tantas empresas no Brasil me ligando procurando por uma pessoa que não conheço, para cobrar algo que eu não fiz e nem sei o que é!

Indo à Vivo para mudar o número, acabei trocando pontos acumulados por um celular bem básico para minha mãe, para ela aprender a usar, já que nunca se animou a comprar um - custo da primeira carga no pré-pago para mim; inicialmente zero para minha mãe que tem um pouquinho de carga; cliente novo para a Vivo.

Enfim, meu novo número de celular tem história para contar. Só espero que não aconteça de novo...