quinta-feira, 10 de junho de 2010

Psicanálise e...

Ler Freud é um processo... Isso, um processo porque implica em aceitação, negação, dúvida, busca de lembranças que não necessariamente querem se mostrar ou que se mostram mas não têm justificativa ou não fazem sentido.

Uma das frases que mais mexeu comigo nas leituras que tenho feito sobre psicanálise explica o tempo "identificante": o tempo em que dois instantes se dão mutuamente identidade através de um acontecimento, o tempo que é instaurador de passagens e de transformação ("Os professores - entre o prazer e o sofrimento" da Claudine Blanchard-Laville). Ou seja, o tempo para a psicanálise é dinâmico, flexível, cíclico, pois se baseia na vivência, na representação e construção da identidade. Nada de linearidade temporal com a qual estamos acostumados e que via de regra rege nossa percepção e modo de viver nos fazendo tomar uma decisão atrás da outra como se fossemos nada antes e nada depois, o agora pelo agora imediato. Na realidade, cada dia que passa tenho mais certeza sobre essa incerteza temporal, por meio da teoria de cordas e pelas mônadas quânticas de Amit Goswami.

Assim, considerando o tempo identificante me permito falar em vários eu's num processo de representação do eu conectado a um Outro, e que se torna presente a todo momento ao resgatar das minhas impressões para as respostas necessárias às minhas experiências vividas neste presente. O que me leva à sala de aula...

Todo professor tem alguma história conectando sua infância à vida escolar e consequentemente a um professor que o marcou (aliás, mesmo não sendo professor esse tipo de história é presente). Muitas vezes até mesmo a justificativa pela escolha da profissão docente está ligada diretamente a um professor específico de figura altiva ou modesta, feminina ou masculina, doce ou áspera, e por aí vai... São imagens absorvidas, identificadas a partir do estabelecimento da relação professor-aluno, na qual na maior parte das vezes, enquanto alunos, não podemos ou não conseguimos optar por aceitar e da qual podemos ser vítimas de uma violência silenciosa, uma violência simbólica que nos faz abdicar várias vezes do nosso eu em prol do Outro. Entretanto, nesse processo de identificação é possível também haver transferência, do aluno para o/a professor/a, de uma relação já estabelecida com um outro Outro (pai, mãe,...), tonando a relação professor-aluno ainda mais complexa.

Onde quero chegar? Que como professores precisamos reconhecer o poder simbólico que exercemos nos nossos alunos no sentido de darmos um primeiro passo para a compreensão dessa relação tão complexa.

Não que sejamos únicos culpados pelo sucesso ou fracasso escolar, pois a instituição escolar também se relaciona simbolicamente com os alunos, mas é preciso que tenhamos consciência, ou pelo menos tentemos, para podermos lidar melhor com as idiossincrasias dos nossos alunos. É preciso reconhecer que em cada um deles há um ser humano complexo, com necessidades específicas. É necessário compreender que cada um deles passa pela negação do próprio eu para se adequar a sociedade e ao sistema escolar. É principalmente ter compaixão por cada um desses pequenos seres, sem considerá-los inocentes anjos, mas como participantes inconscientes da construção do seu próprio eu.

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