quarta-feira, 30 de março de 2011

Estudo compara cérebro de crianças

Imagina um dia você ir ao médico com seu filho(a) para uma visitinha regular e, ao longo da conversa, que a priori deveria ser tranquilizadora, tendo em vista que seu(sua) filho(a) apresenta um crescimento saudável, você recebe a notícia de que ele pode se tornar um bandido... Então, esse é o conteúdo da matéria da Folha, do dia 07 de março de 2011.

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/885673-estudo-compara-cerebro-de-criancas-psicopatas-e-bandidos.shtml

De acordo com a Folha, depois de receber esta bomba do médico,  a "boa notícia" trazida pelos pesquisadores é que seu filho, se tiver um cérebro "malvado", pode não se tornar um bandido, mas um político corrupto. [Já que] criminosos armados e de colarinho branco têm cérebros parecidos.

De início pânico total, talvez descrença... depois, preocupação sobre que comportamento adotar? O que fazer? Psicólogos, psiquiatras, terapeutas de todos os jeitos? Trancar a criança? Colocar em qual escola? Uns podem dizer que é uma forma de evitar o "mal" (!), outros que basta dar uma educação de qualidade (educação é diferente de escola, tá? depois posto sobre isso!).

Enfim, boa notícia ou não, definitivamente não estamos preparados para lidar com esse tipo de informação sem necessariamente estarmos atrelados à boa e velha economia simbólica - o preconceito. É só pensar no que você faria se não fosse um filho seu!

Como pais e mães a postura é, via de regra, protetora, mas e se fosse seu sobrinho João, a prima Cecília, o coleguinha Pedro do seu filho, sua aluna Mariana... Como você iria lidar com a criança rotulada de futuro bandido ou político corrupto?

Honestamente, considerando que vivemos numa sociedade altamente preconceituosa, em relação a gênero, raça, etnia, religião, orientação sexual, padrões de beleza midiáticos, IMC (índice de massa corporal - os gordinho que o digam!), e por aí vai... O que poderia ser dito em relação ao estigma do "bem" e do "mal", ao qual sempre devemos lembrar que não há ninguém totalmente bom ou totalmente mal?

De acordo com a matéria, Fontaine diz que quanto antes crianças potencialmente perigosas forem identificadas, melhor. "Assim podemos ajudar tanto elas quanto as suas famílias", diz.

Uma ideia seria avaliar se essas crianças não estão em situações que facilitariam o desenvolvimento do seu potencial criminoso, como viver em áreas de pobreza.

Se estiverem, é preciso tirá-las dali. Cérebro "ruim" em um ambiente pior pode ser a receita da tragédia.

Esse tipo de informação no Brasil provocaria um caos, principalmente no sistema escolar que recebe uma quantidade enorme de alunos! Seriam os novos TDAHs? Qualquer criança com comportamento inconstante ou não adequado poderia ser facilmente colocada nesse rol, mesmo sem os exames apropriados... Não é foi assim com o uso da Ritalina?

Além disto, se temos poucos recursos para saúde e educação, haverá para esse tipo de situação? Não há interesse estatal em relação aos direitos sociais! Como viabilizar apoio à sociedade na qual o Estado tem a cada dia se mostrado encaminhar mais para a perspectiva do Estado mínimo, para o Estado neoliberal?

Estigmatizar essas crianças é algo perigoso sem o devido suporte. Novamente, estamos preparados? Além disto, viveríamos intensamente uma dicotomia, quando o mundo não é dicotômico. Isso é incentivar a pensar que há um certo e um errado para tudo e todos, quando há sempre diferentes versões para os fatos por sermos humanos e enxergarmos, cada qual, por meio de uma lente própria. Não esqueçamos que os interesses privados, na grande maioria das vezes, estão acima dos coletivos!

Se há uma real aproximação entre os tamanhos das amígdalas cerebrais das crianças problemáticas e dos "caras maus", há de se ponderar qual o real interesse nesse tipo de divulgação, em prol de quem esse tipo de informação deveria ser divulgada....

Esse posicionamento incentiva também um pensamento positivista ou, no melhor dos casos, neopositivista no qual tudo poderá ser medido e classificado, no qual haverá sempre um sim ou um não. Um tecnicismo no qual não deveríamos nos chafurdar mais, principalmente ao considerarmos que cada vez mais necessitamos do pensamento coletivo, na lembrança de que nossos atos, ações, comportamentos, refletem-se na teia!


Enfim, algo bastante incômodo...

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